Coleco Chameleon / Retro VGS (cancelado)
Console anunciado em 2015 que seria desenvolvido e lançado pela empresa Retro Video Game Systems Inc. através de financiamento coletivo.
O Retro VGS, batizado depois de Coleco Chameleon, graças a uma parceria feita com a clássica empresa Coleco (criadora do Colecovision), tem uma história bastante polêmica e hoje você vai saber todos os detalhes desse que se tornou um dos maiores casos de fracasso e decepção de um projeto de novo console retrô.
Em setembro de 2015, começou uma campanha de financiamento Coletivo no site Indiegogo para arrecadação de fundos de um novo videogame: o Retro VGS, seguindo o caminho já trilhado pelo Ouya, que era o principal exemplo de console financiado pelo público cuja campanha tenha sido concluída com sucesso. Só que o Retro VGS não seria um console baseado em Android como o Ouya e nem mesmo um console que serve apenas para emulação, como o Retron 5.
O Retro VGS seria uma plataforma totalmente nova e que utiliza como mídia para seus jogos os conhecidos cartuchos. Sim! Cartuchos! Aquele delicioso artefato antigo que muitos chamavam de fita. Em 2015 o mundo gamer vivia uma forte onda retrô (que continua firme até hoje, aliás). Então trazer de volta os cartuchos era algo que de pronto já causa suspiros em muitos gamers. Afinal, o último console de mesa lançado em larga escala a utilizar essa tecnologia foi o Nintendo 64, em 1996.
Mas não é só na mídia escolhida que o Retro VGS chama a atenção. A carcaça do console é praticamente idêntica à do Jaguar, último console da Atari, lançado em 1993. Isso porque, para baratear custos, os desenvolvedores do Retro VGS conseguiram adquirir os moldes/prensas industriais, utilizados pela Atari na época para a construção dos consoles e também dos cartuchos, o que gerou uma economia de meio milhão de dólares no projeto, segundo informou a companhia. Além disso, foram feitos pequenos ajustes para deixar o design mais atual.
Outra peculiaridade do console estaria no hardware: o console utilizaria um sistema, digamos, mutante. Explico: o Retro VGS utiliza dois processadores, sendo um com tecnologia ARM, comum em diversos consoles e dispositivos eletrônicos, e outro com a tecnologia FPGA – Field Programmable Gate Array. Este último permite que o programador de jogos insira códigos no cartucho que determinam a forma como “chip” FPGA irá se comportar. Exemplo: o programador deseja criar um game no estilo dos jogos de Super Nintendo. Ele então colocará um código no cartucho que faz com que o Retro VGS funcione com capacidade semelhante ao de um Super Nintendo, como se os processadores deste último estivessem dentro do Retro VGS. Isso traz uma gama de possibilidades tremenda para os criadores de jogos. O Retro VGS seria, naquela oportunidade, o primeiro console a utilizar essa tecnologia, hoje bem popular em consoles como o Mister e os High-End retroconsoles da Analogue.
Na parte de controles, mais uma novidade: além de um controle próprio, semelhante a um controle clássico de Wii, o console seria compatível com qualquer controle padrão usb e ainda com controles clássicos que utilizam o plug db9, como Atari 2600 e Mega Drive.
O foco do console seriam os jogos com estilo retrô, ou seja, jogos novos, porém com roupagem de jogos antigos, gênero que em 2015 estava se tornado bastante popular, com desenvolvedores independentes fazendo hits como Shovel Knight e Pier Solar. Diversos jogos já estariam em desenvolvimento e até mesmo o jogo que irá acompanhar o console já havia sido escolhido: Adventures of Tiny Knight.
No projeto do Indiegogo o console tinha o custo de 299. Sim, bastante salgado. Haviam também formas de ajudar o projeto sem adquirir o console, com valores a partir de dez dólares. Tudo era chancelado por nomes conhecidos no mercado gamer, que compunham a equipe do projeto: Steve Woita e John Carlsen, criadores de diversos softwares e hardwares para companhias como Atari, SEGA, Apple, Nintendo e Sony, e o líder do grupo, Mike Kennedy, criador da revista Retro Magazine, bastante conhecida na época no meio retrogamer. Para que o console saísse do papel, a empresa pedia um valor mínimo total da campanha pouco menos de dois milhões de dólares.
FICHA TÉCNICA:
CPU: Processador “Quadrunner” 4-core 1.6 GHz 32-bit ARM Cortex-A9 (16,000 DMIPS) com GPU de alta performance gráfica integrada, capaz de produzir gráficos 2D e 3D com alta qualidade
RAM: 1 GiB (2^30 bytes) 32-bit DDR3-800
Entre os jogos anunciados para o console, além do jogo que o acompanharia (Adventures of Tiny Knight), estavam: Gunlord e Last Hope (NG:DEV.TEAM), Knight's Chance (NeoBitz), Adventures in the Tower of Flight (Pixel Barrage Entertainment), Sydney Hunter and the Caverns of Death (CollectorVision Games), Read Only Memories (Midboss LLC.), Songbringer (Wizard Fu Games), Shantae and the Pirate's Curse (WayForward), Double Dragon Trilogy (DotEmu), Pier Solar (Watermelon Games) e Jeffrey Wittenhagen's Black Box Challenge.
O projeto começou a receber muitas críticas, entre outras razões, por não possuir um protótipo funcional para comprovar as intenções e promessas dos criadores. Essa aliás foi a razão escolhida para o projeto de financiamento ir para o Indiegogo, e não para o Kickstarter, que naquele momento era uma plataforma com muito mais credibilidade e fama no ramo. O motivo: o Kickstarter tinha muito mais exigências para ser a casa de um projeto de financiamento coletivo de um aparelho, em especial a existência de um protótipo funcional do console, algo que a Retro VGS não tinha.
Conclusão: a campanha no Indiegogo foi um retumbante fracasso, com apenas 4% do valor financiado. Mas Mike Kennedy e sua equipe ainda não desistiriam de seus planos e prometerem que voltariam com um projeto ainda mais robusto. E de fato voltaram. A Retro Video Game Systems anunciava em 17 de dezembro de 2015 que o Retro VGS estava de volta. Agora com um novo nome e um novo parceiro: Coleco Chameleon. Não... Você não leu errado. A empresa Coleco, responsável pelo mais poderoso console da segunda geração, o Colecovision, lançado em 1982, juntou forças com a empresa para lançar o novo console.
Poucas informações sobre o hardware foram reveladas, o que nos faz crer que na verdade se tratava do mesmo aparelho que teria sido o Retro VGS: um console que utiliza dois chips, sendo um com tecnologia ARM e outro com tecnologia FPGA. Mas novas promessas não deixaram de ser feitas: todos os jogos viriam com caixa e manual, algo fundamental para os retrogamers e colecionadores. O console rodaria jogos novos com gráficos no estilo 8, 16 e 32bit e também poderá rodar jogos de consoles clássicos, utilizando a tecnologia do chip FPGA que explicamos acima, juntamente com adaptador que possibilite o console a aceitar o cartucho específico do console clássico que se queira jogar.
Mas a promessa que mais chamou atenção foi essa: um protótipo funcional seria apresentado já em fevereiro do ano seguinte, durante a Toy Fair New York 2016 e a expectativa era de que o console estivesse a disposição para venda ainda no primeiro semestre do mesmo ano. No comunicado oficial nada foi falado sobre uma nova campanha de financiamento coletivo, o que abria a possibilidade para um lançamento com verba própria.
Parecia que tudo ia bem né? #sqn. A apresentação ocorrida na feira de brinquedos de New York aumentou ainda mais a polêmica existente em torno do aparelho. A feira é fechada para empresas, então a divulgação do novo console foi toda realizada através de fotos e vídeos postados na fanpage do Facebook da Retro Video Game Systems Inc., a criadora do projeto. O que se viu foi o seguinte: uma carcaça do Coleco Chameleon, fechada com fita isolante em diversos pontos. Dele saíam um cabo de energia e um de som/imagem, além de dois fios que saíam de dentro do aparelho para dois controles de Super Nintendo, usados nas apresentações para rodar os jogos demonstrados, que funcionavam através de um cartucho igualmente fechado com fita isolante.
Até aí tudo bem. Afinal, estamos falando de um protótipo, certo? O problema são os detalhes, percebidos imediatamente pelos gamers interessados no projeto. A começar pelo controle. O Chameleon terá um controle próprio, semelhante a um controle genérico de Wii U. Portanto, não havia nenhuma razão para a utilização de um controle original de Super Nintendo para joga-lo. Ao fundo do console era perceptível que o cabo que transmitia a imagem era semelhante ao cabo utilizado nos consoles Super Nintendo. Detalhe: o Chameleon foi anunciado como um console que terá apenas saída HDMI. Estranho imaginar que o protótipo não utilizasse de cara a estrutura básica de transmissão de sinal que obrigatoriamente teria que ser implementada futuramente.
Mas a coisa ainda se complica um pouco: olhando as imagens disponibilizadas da parte traseira do console e comparando com a parte traseira de um Super Nintendo Baby, percebe-se que a posição dos cabos de energia e de imagem são idênticas.Diante de todas essas evidências, os gamers - principalmente os norte-americanos, começaram a investigar ainda mais a fundo essa história, suspeitando que na verdade não havia protótipo nenhum ali, mas sim uma placa de Super Nintendo Baby adaptada em uma carcaça de Atari Jaguar.
As evidências ganham ainda mais força pelo fato de que o slot de cartuchos do Jaguar e do Super Nintendo são semelhantes, o que facilitaria essa dissimulação, e que os jogos que foram mostrados rodando na feira eram, em sua grande maioria, jogos feitos para o Super Nintendo no passado, mas que por uma razão ou outra não foram lançados. Alguns gamers chegaram a adaptar uma placa de Super Nintendo Baby dentro de uma carcaça de Jaguar para poder simular o possível “protótipo” e o resultado estético foi idêntico ao que foi apresentado na feira.
A cereja do bolo é que em nenhum momento das filmagens e fotos (muitas delas foram inclusive retiradas na época dos canais oficiais do console) foi mostrada a forma como os jogos eram inicializados no sistema do aparelho, o que levanta a suspeita de que dentro do cartucho dito como protótipo de um de Chameleon, na verdade existia um flashcart de Super Nintendo – como o SD2SNES, com as roms dos jogos em um cartão SD. Diante de tudo isso é inegável que as evidências são fortes apontando para uma farsa ocorrida durante a apresentação na feira.
Posteriormente o CEO da Retro VGS, Mike Kennedy, veio a público dizer que o protótipo lhe foi entregue pelo responsável (cujo nome é um mistério até hoje), e que a única recomendação dada é que a parte traseira do console não fosse mostrada, algo que o próprio Mike ignorou, já que disse que "não tinham nada a esconder". Mas que de fato, diante de tudo o que foi provado pelos gamers, se tratava de um Super NES Baby e que ele teria sido vítima desse misterioso responsável pelo protótipo. E tudo isso acontecendo nas vésperas do Coleco Chameleon entrar em financiamento coletivo pela segunda vez, desta vez pelo Kickstarter (26 de fevereiro).
Com toda polêmica que rolou a feira de brinquedos, cabia à Retro VGS apagar o fogo e, principalmente, apresentar um protótipo funcional, para que o Kickstarter pudesse começar. E o que a Retro VGS fez? Apresentou fotos do Coleco Chameleon em uma carcaça transparente, deixando visível a suposta placa que o console utilizaria. Agora você não vai acreditar no que aconteceu. Os fãs / investigadores, que já estavam ficando calejados com o Chameleon, debulharam as fotos apresentadas. E adivinha?! Em primeiro de março de 2016 o jornalista gamer Frank Cifaldi, anunciou no Twitter que a placa mostrada nas fotos nada mais era que uma antiga placa de captura de imagem, tipo PCI.
Obviamente essa constatação deixou a comunidade retrogamer mundial em polvorosa. Para complicar ainda mais, a Retro VGS retirou de sua página no Facebook justamente a foto utilizada para realizar a referida constatação, passando aos gamers praticamente um atestado de que, mais uma vez, ela tinha se utilizado de uma fraude para atingir seus objetivos.
Mas essa novela parece longe de acabar: no mesmo dia, o Diretor Brian Thomas Barnhart, dono de um canal de mesmo nome no YouTube e que seria responsável por criar o vídeo que seria utilizado na campanha do Kickstarter para o Coleco Chameleon, veio a público e expôs alguns fatos que comprometeram ainda mais o projeto. Brian contou que o projeto inicial do vídeo era filmar uma espécie de comercial onde apareceriam vários adultos e crianças jogando o protótipo do Chamaleon. Isso foi abortado por solicitação de Mike Kennedy, CEO da Retro VGS Inc. Brian então insistiu que faria o vídeo apenas se um protótipo funcional fosse apresentado, inclusive disponibilizou o seu canal no YouTube para que Mike viesse a público e mostrasse o console funcionando, o que praticamente acabaria com toda a polêmica.
Apesar desses apelos, Mike insistia em mostrar apenas um vídeo com imagens do console rodando (sem mostrar o hardware), com uma narração sua (que inclusive foi lida no vídeo em que Brian postou no YouTube). Parece que a vida do Coleco Chameleon não podia piorar, né? Ah, sempre pode (risos). No dia seguinte, a Coleco se manifesta sobre as denúncias e diz que irá averiguar tudo e atualizar os fãs. dias depois, veio o anúncio oficial em sua página no Facebook: a Coleco não não fazia mais parte da parceria com a Retro VGS e que ao menos o nome Coleco Chamaleon estava morto. No mesmo comunicado eles indicam que a Retro VGS ainda planeja lançar o console, com a Coleco lhes desejando sorte na empreitada.
E realmente, precisaria de muita sorte para, depois de tamanha lambança, conseguir sucesso e lançar o console. Na real nunca saberemos quais eram as reais intenções de Mike Kennedy e seus parceiros. O mais provável é que a ideia mal trabalhada de lançar um console acabou se transformando em um emaranhado de mentiras e golpes, deixando de lado premissas morais por uma idealização de compensar tudo o que fosse feito errado com o produto final. Ainda bem que essas coisas não funcionam assim e o Coleco Chameleon / Retro VGS acabou se tornando apenas uma história bizarra onde ao menos ninguém chegou a ser prejudicado financeiramente pelas mentiras contadas.
- Ano Lançamento: --
- Fabricante: Retro Video Game Systems Inc.