Análise: Resident Evil 4 Remake
Por Mozart Geraldo
11 de Janeiro de 2005, nunca esquecerei…
Quando Resident Evil 4 foi lançado o mundo dos games nunca mais foi o mesmo, pois além de dar novo fôlego à franquia também a alçou para um patamar ainda maior do que qualquer outro título da série até então. A câmera “over the shoulder” e a ação cinematográfica, hoje tão comuns, foram verdadeiras revoluções para a época.
Agora, 18 anos depois dessa revolução e em um cenário em que jogos como Gears of War, Dead Space e The Last of Us não somente existem mas são enormes sucessos, Resident Evil 4 surge mais uma vez, e a Capcom deseja reclamar o trono de maior jogo de ação e sobrevivência em 3ª pessoa de todos os tempos nesta reimaginação do pesadelo vivido por Leon em 2005.
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Só mais um dia de trabalho para o Leon...
Após os acontecimentos em RE2, Leon S. Kennedy é recrutado pelo serviço secreto dos EUA e recebe treinamento que o torna um agente especial do governo americano. Sua missão atual é resgatar a filha do presidente dos Estados Unidos que aparentemente foi sequestrada e cujo último paradeiro foi uma isolada vila na Europa.
Ao chegar na vila, não demora muito para que Leon perceba não se tratar de um sequestro comum e a “hospitalidade” dos habitantes deixa bem claro o quanto turistas, ou melhor, “forasteros” não são bem-vindos.
Se você jogou o RE4 original a trama do jogo é praticamente a mesma, com apenas alguns ajustes aqui e ali para modernizar e adaptar a história para os dias atuais, de maneira similar ao que vimos nos remakes de RE2 e 3, no entanto, sem dar spoilers, digo aqui que enquanto os remakes anteriores tiveram diversas mudanças em suas tramas que não agradaram boa parte dos jogadores (segunda jornada em RE2, quase tudo em RE3), em Resident Evil 4 eu diria que praticamente todas as mudanças foram para melhor. Não se preocupe se você era fã da personalidade sarcástica e provocadora de Leon no original, pois isso e toda a essência das demais personagens foram mantidas aqui.
Para quem nunca jogou RE4 eu também posso assegurar que a reimaginação é o melhor ponto de entrada, não só para este capítulo em específico, mas para toda a franquia Resident Evil.
REalmente belo
Não existe um jogo sequer na RE Engine que não seja simplesmente belo, mas em Resident Evil 4, a Capcom mais uma vez conseguiu ir além e criou um dos jogos mais absurdamente estonteantes da geração! É incrível como mais de 20 anos após o remake de Resident Evil no GameCube ainda me pego olhando e admirando os jogos dessa franquia e me perguntando: será que dá para ficar melhor do que isso?
O jogo possui três grandes áreas ao longo da aventura: a vila, o castelo e a ilha, todos visualmente bastante distintos entre si mas igualmente abarrotados de detalhes e caprichos em cada cantinho que o mais curioso dos jogadores queira bisbilhotar. Das casinhas rústicas e áreas rurais da vila, passando pelas masmorras decrépitas e dos luxuosos salões do Castillo de Salazar até os horrores presentes no complexo militar da ilha, do começo ao fim da jornada é praticamente impossível não parar para admirar o trabalho da Capcom nos gráficos do jogo, e a softhouse de Osaka sabe disso já que até um modo foto está presente no jogo, que inclusive pode ser usado até durante as cutscenes.
Mas as melhorias nos ambientes vão muito além dos gráficos e assim como em RE2 (2019) apesar dos mapas serem praticamente os mesmos, muitas áreas foram repensadas e até expandidas, como a região do lago que agora é uma enorme área semi-aberta que pode ser explorada com o barco.
Os modelos de personagens também receberam o mesmo capricho nos visuais e assim como nos últimos remakes também foram construídos utilizando a captura de modelos reais, para garantir aquele fotorrealismo que já esperamos em um jogo desse porte.
Controles REfinados
Aqui talvez tenhamos o ponto mais importante para o êxito desse game, pois no remake temos tudo o que os quase 20 anos de evolução nesse estilo de gameplay poderia proporcionar em um jogo atual.
Leon está mais versátil do que nunca e consegue fazer tudo que era possível no game original, junto a isso temos a adição de um botão para agachar que serve para desviar de ataques e também pode ser usado para se mover discretamente pelo cenário, evitando confrontos desnecessários. Agora também é possível se movimentar com a arma empunhada, mas assim como em RE2, a precisão aumenta se ficarmos parados. Todos esses refinamentos são bem-vindos, mas a grande estrela da vez é a boa e velha faca de combate: além de possuir um botão dedicado para ataque, agora é possível repelir quase todos os ataques inimigos ao pressionar o botão no momento certo. A janela de tempo para repelir um ataque é até bem generosa, no entanto ao repelir com um timing perfeito o inimigo fica atordoado e suscetível a um belo chutão na cara! Mas cuidado pois as facas sofrem desgaste ao serem utilizadas e podem quebrar, deixando Leon aberto a investidas no meio do combate, portanto é um recurso que requer certa estratégia e cautela.
Por fim, o sistema de parceiros também foi todo modernizado e os momentos em que escoltamos a Ashley são muito mais divertidos e menos frustrantes. Graças aos avanços de IA. que temos hoje, tanto a filha do presidente quanto nosso colega Luis Serra agora conseguem ser muito mais independentes e não usam recursos do jogador para se curar ou defender.
Os sons que REssoam
Assim como os gráficos, toda a parte sonora nos últimos RE é digna de aplausos, e em Resident Evil 4 não é diferente, no entanto eu diria que é mais especial, afinal de contas, o game possui os diálogos mais memoráveis da história da franquia e poder ouvir tudo isso em nosso idioma é quase um sonho realizado! Mas não se preocupe quanto aos ganados pois a Capcom teve o cuidado de manter suas vozes em espanhol e gritos como “¡un forastero!” e “!detrás de ti!” continuam presentes durante toda a aventura, garantindo aquela autenticidade tão clássica desses inimigos.
Para além dos diálogos, os efeitos sonoros são igualmente incríveis e bem balanceados, seja jogando num sistema surround, fones de ouvido ou até mesmo os alto-falantes da TV, não importa o setup, RE4 vai oferecer o que há de melhor no quesito áudio.
Vale a pena REvisitar?
Sem a menor sombra de dúvida! Assim como no original, o ritmo do remake é super balanceado entre momentos de suspense, terror e muita ação, e mesmo sendo uma das aventuras mais longas de toda a franquia em nenhum momento eu me senti cansado ou entediado, muito pelo contrário! Tudo isso também deve-se ao excelente combate, absurdamente variado graças ao enorme arsenal disponível para Leon detonar o culto de “Los Illuminados” com muito estilo.
A caça aos tesouros e as dificuldades mais avançadas como o modo profissional também proporcionam aquele desafio extra para os veteranos e para fechar com chave de ouro a cereja do bolo, o modo Mercenários voltou com tudo por meio de uma atualização gratuita, e se comporta de maneira muito similar ao modo original em RE4.
Conteúdo e razões para voltar ao game definitivamente não faltam aqui.
Um novo patamar para os REmakes
Em Resident Evil 4, a Capcom provavelmente enfrentou o seu maior desafio em toda a sua trajetória de remakes, tanto nos aspectos técnicos quanto nas questões artísticas e criativas pois, enquanto os anteriores possuíam questões seríssimas de apresentação e gameplay para os dias atuais, Resident Evil 4 mesmo após 18 anos continuou sendo um exemplo de jogo quase irretocável, ao ponto de muitos questionarem (eu inclusive) se havia mesmo necessidade disso acontecer.
Parabéns Capcom, vocês se superaram!